terça-feira, 14 de março de 2017

LIVRO - O CAPOTE

Junto com o livro da TAG do mês de fevereiro, veio esse livrinho de bolso chamado Capote. Na verdade, consiste num conto, de aproximadamente 40 páginas, que são suficientes para você querer ler qualquer coisa que esse homem possa ter escrito. Nikolai Gógol era um homem bastante peculiar. Apesar de, na minha humilde opinião, ser um gênio literário, a exemplo de tantos outros russos maravilhosos – estou lendo Dostoiévski! -, ele era bastante solitário, recluso, nunca se relacionou com ninguém, era extremamente depressivo e morreu de fome! Mas não porque estava pobre, mas porque estava deprimido. Ah, e reza a lenda que ele morreu virgem, aos 43 anos, na metade do século XIX.

E o que é mais curioso é que esse texto, o Capote, é extremamente contemporâneo, poderia ter sido escrito hoje! E o autor descreve as cenas de uma forma que te transporta para o local, sem ser descritivo ao extremo ou cansativo, mas apenas se utilizando das palavras certas. Ele nos apresenta a Akáki Akakiévitch, um funcionário público viciado em trabalho, o qual, curiosamente, é mecânico e repetitivo. Ele vive para o trabalho, sente um prazer imenso em sua função e não consegue enxergar nada além disso. Mora sozinho, não se relaciona com ninguém, não se diverte... nada. É como se a sua existência não importasse a ninguém.

Até que, um belo dia, em pleno inverno russo, ele nota que seu capote (casaco) está extremamente desgastado e que ele não conseguirá se abrigar do frio. Então, o protagonista se dirige ao alfaiate da cidade, Petrovitch, que é uma figura bem peculiar, e solicita alguns remendos. O alfaiate, todavia, vai dizer que o casaco não tem conserto e que ele precisará fazer um novo. Akáki fica desesperado porque não tem dinheiro para tanto, mas faz um esforço e o novo capote é confeccionado. E o curioso no conto é o momento que o protagonista se depara com esse capote. É como se fosse um objeto divino, uma relíquia! E ele vai, no dia seguinte, trabalhar com o casaco novo, se sentindo, de repente, como alguém de grande importância. E os colegas de trabalho, que antes tiravam troça dele, passam imediatamente a respeitá-lo. Ele se torna uma pessoa completamente diferente, apenas em razão da presença desse capote.

Só que, por um infortúnio, essa situação dura pouco, porque o casaco é roubado... e aí???? Não vou contar o resto para não estragar o conto. É uma história bem engraçada em alguns pontos, muito gostosa de ser lida, mas ao mesmo tempo, é de reflexão. Veja que, de um “Zé ninguém”, Akáki se transforma em algum com importância com a simples aquisição de um casaco novo. É como se fosse necessária essa “extravagância’ para que ele fosse aceito na sociedade, da qual era marginalizado até então. É um mundo de aparências, sem dúvida.

“Ninguém lhe votava qualquer consideração. Longe de se erguerem à sua passagem, os porteiros prestavam menos atenção à sua aproximação do que ao voo de uma mosca. Seus superiores o tratavam com uma frieza despótica (...).”
“Se esta criatura resignada a sofrer com as zombarias de seus colegas, incapaz de empreender qualquer ação notável, tivesse visto subitamente sua triste existência iluminada – um breve instante, próximo ao fim – pela visão radiosa de um capote novo, seria para que a infelicidade se abatesse sobre ele como se abate os poderosos deste mundo!”

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