O dia
começou mais calmo e eu já estava imaginando que assim seria até o fim, porque
no final da viagem, já estamos cansados e com menos disposição. Segui para o
meu café da manhã de sempre, com café com leite e croissant de mascarpone e
depois fui andando bem tranquila em direção ao ponto de encontro da excursão.
O lugar em
que ficava a agência de turismo era no meio do Bairro Gótico, que confesso que
não é o melhor lugar para se estar logo cedo, quando não tem ninguém na rua.
Mas no caminho, tomei conhecimento de que havia uma porção grande daquele lugar
que ainda não havia explorado, apesar de ter andando aos montes por lá – é
realmente um grande labirinto. Inclusive, me deparei com o Palau de la Musica
(que acabei indo no último dia) que é absolutamente maravilhoso!
Bem, na
excursão éramos eu e uma família de americanos de New Jersey (pai, mãe e um
filho adolescente) e a guia Nuria era argentina. Na ida eu fui no último banco,
e papeamos o caminho todo. Foi ótimo. A promessa era de conhecer 3 vilas
medievais na Espanha: Besalú, Rupit e Tavertet, um tour que tenho certeza que
não conseguiria fazer se não fosse dessa forma.
Primeira
parada: Besalu, uma cidade medieval que, logo de cara, nos presenteia com uma
linda ponte. “Foi designado como um conjunto histórico nacional em
1966. A característica mais importante da cidade é a sua ponte do século
XII sobre o rio Fluvià, e seu
portão de entrada no ponto médio da ponte. A igreja
de Sant Pere foi construída em 1003. A cidade possui ruas e
praças arcadas, e também um mikvá restaurado, um banho ritual judaico
datado a partir do século XI, assim como os restos de uma sinagoga medieval, localizados na parte
inferior da cidade perto do rio.”
Bem, a parte
boa de estar em excursão é a possibilidade de visitar lugares que não
conseguiria sozinha, mas a parte ruim é o tempo escasso que temos em cada um deles.
Em Rupit, por exemplo, o tempo livre concedido foi mais do que suficiente, mas
Besalu é uma cidade bem histórica, muito turística, bem lotada e com uma
quantidade bem grande de coisas a se fazer. Por isso, eu acho que o ideal era
passar uma tarde por lá e não apenas 1 hora. O que eu posso dizer é que Besalu
é belíssima, bem medieval, com ruas gracinhas e paisagens incríveis que
renderam belas fotos. O que me deixou um pouco chateada é que há algumas
construções novas por lá que destoam da paisagem, porque são modernas e não
respeitam o estilo.
Enfim, no
tempo que me foi conferido, consegui ir a um mirante e fazer um passeio pela
beira do rio e entrei na antiquíssima Igreja de San Pere, onde há duas
relíquias. A cidade era bastante importante na Idade Média porque contava com
um hospital, então, gente de todos os cantos vinham tratar-se. O caso é que
Besalu não queria ser uma cidade de doentes, então, acabou construindo um
hospital do lado de fora, que ainda está em pé.
A cidade é
todinha fortificada e a ponte de acesso é em zigzag, o que dificulta o acesso,
porque as pessoas/carroças tinham que diminuir a velocidade para chegar ao
portão, dando tempo da guarda local fazer o alerta de intrusos. Muitos judeus
viveram por lá pacificamente durante um longo período de tempo, sem ficarem
separados dos cristãos. O que acontece é que eles pagavam altos impostos e,
assim, eram protegidos pelo rei. Há, inclusive, um mikvá por lá, que são os
locais de banhos judaicos – eles não foram tão afetados pela peste em razão da
higiene, mas os cristãos achavam que eles tinham feito algum pacto com o diabo
e, por isso, acharam mais legal matar os judeus.
Bem, de lá
seguimos para Rupit na pior estrada possível – 1 hora e cheia de curvas. Eu
passei tão mal na van que quase cheguei ao ponto de pedir pra parar. Tomei um
remédio, deu tudo certo e dali em diante eu segui no banco da frente, o que me
ajudou a não enjoar. Mas vou falar que a chegada na cidade compensou tudo
porque foi a minha favorita do dia: todinha em pedras originais. Na verdade, a
cidade está absolutamente idêntica era na Idade Média.
Na chegada,
há uma vendinha com sorvete e coisas básicas, aí, você tem que atravessar uma
estrada de asfalto até chegar na cidade. A estrada não é tão longa, mas é
subida e o sol estava de rachar coco. No caminho, vamos nos deparando com
plantações e casinhas bucólicas. Na cidade em si, a guia foi nos mostrando que
em cima das portas das casas, há as datas em que elas foram construídas e quem
morava lá: ferreiro, boticário, alfaiate, etc. A religião das pessoas também,
era informada, mas como lá moravam as famílias dos soldados reais, eram todos
cristãos.
Fiquei
flanando pela cidade que é uma graça e me deixou apaixonada. Há uns dois
restaurantes, mas eu acabei almoçando um sanduiche trazido e fiquei satisfeita
porque me poupou tempo e grana. Por lá comprei uns acessórios de cerâmica super
gracinhas, explorei as lojinhas locais e todos os cantos que encontrei. Fui a
uma ponte, atravessei o rio, subi até o topo das casas, passei pelo cemitério,
que infelizmente estava fechado.... e juro que depois de tudo isso, eu ainda
tinha uma meia hora disponível! A cidade é minúscula e não há muito o que ser
feito por lá. Acontece que Rupit é tão gracinha e tão intocado pelo tempo, que
dá vontade de ficar por lá só fazendo nada.
O bom é que
você encontra fontes de água potável em todo canto e como estava muito calor,
foi bem providencial. Já perto da hora de ir embora, desci para perto do
estacionamento, tomei um sorvete de nata e segui para a van com destino a
Tavertet, nossa última parada. Devo dizer que fiquei grata de sentar na frente
e de ter uma motorista competente, porque subimos até a lua numa estrada de
terra com precipício num dos lados. O negócio lá é tão primitivo, que tivemos
de ir com os vidros abertos para ouvir carros à frente, para não bater, porque
não há sinalização e a via tem uma faixa só.
Bem, lá em
cima, chegamos na vila, um lugar de cerca de 15 habitantes – juro – que foi
declarada Propriedade Nacional de Interesse Cultural devido a suas 48 casas
preservadas dos séculos XVII e XVIII. Parece uma cidade fantasma, porque na
verdade, não vi nenhum ser vivo - nem morto. Tudo muito antigo, muito primitivo. Seguimos para a
igrejinha local, São Cristóvão, do século XI, que é minúscula, super simples e
nela você consegue ver os nomes das famílias proeminentes escritas nos bancos.
Foram as famílias abastadas que ajudaram a recuperar a igreja após um grande
terremoto.
A cidade em
si tem zero coisas pra fazer. Não tem restaurante, comércio... nada! mas é
interessante ver como as coisas funcionavam antigamente. Há até um bebedouro
para cavalos. Mas o que realmente vale a pena lá é a vista absurda! Tavertet
fica no topo de uma montanha e lá do alto é possível vislumbrar as lindas
falésias de arenito.
Já de volta
a Barcelona, extasiada e muito contente por ter feito esse tour, passei um
pouco pelo Bairro Gótico, pela parte que não tinha explorado antes, fiz algumas
comprinhas, jantei um delicioso Spaghetti Carbonara num restaurante na Rambla
quase em frente ao hotel e segui para descansar. Foi um dos dias em que fui
para o hotel mais tarde, acho que já estava me despedindo da cidade.