Quero pegar Chimamanda e
colocar no bolso! Li apelas um livro dela – o da resenha de hoje -, mas ela
indicou à TAG “As Alegrias da Maternidade”, que foi um livro que gostei demais,
e só por isso, já consigo sentir que ela é uma séria candidata a se tornar minha
escritora contemporânea favorita! Tenho certeza de que gostarei de todos os
seus livros e já comprei outros dois para me garantia – No Pescoço e Americanah
-, que serão lidos em breve.
Hibisco Roxo
está, seguramente, dentro do meu top 10 livros mais amados. Ele é narrado por
uma adolescente super inocente e recatada – já falaremos sobre isso -, e aborda
uma quantidade tão absurda de temas pesados e polêmicos, que tinha de tudo para
ser um livro tenso, mas é o exato oposto disso! Dentro desse livrinho vamos
encontrar temas como empoderamento feminino, cultura nigeriana, religião,
classes sociais, influência branca, política, dentre tantas outras coisas. E o
que eu mais achei curioso: Chimamanda não cria um vilãozão. Ela inventa um cara
que é terrível, mas ao mesmo tempo um ser humano maravilhoso. Ele é uma
criatura polarizada que faz aflorar todo tipo de sentimento ao leitor.
Bem, vamos
lá. Kambili é a nossa narradora que, como já disse, tem apenas 15 anos. Ela
mora confortavelmente com seus pais e o irmão Jaja, um pouco mais velho, em uma
residência chique na Nigéria. Seu pai é uma espécie de “salvador” da região.
Ele é muito rico, tem fábricas, é dono de um jornal, é um líder
espiritual/religioso e todos o respeitam. Ele sustenta muitas famílias e ajuda
muita gente. E o mais curioso é que, apesar de ele ser dono de um jornal
esquerdista e crítico do governo, ele é um cara extremamente religioso e
quadrado. Ele segue as leis divinas e aquilo que é pregado pela bíblia na sua
mais perfeita literalidade. E impõe tal cultura e educação aos dois filhos e à
esposa.
Como
consequência, a família se pela de medo dele. Ele é um cara que, ao mesmo tempo
que dá todo um suporte incrível à família, aplica punições das mais severas,
das mais doloridas. E isso, claro, faz com que os filhos e até mesmo a mulher –
que apanha horrores – tenham pavor de Eugenie. Ninguém sorri, todos têm
horários rígidos, um papel a desempenhar. O que eu acho mais curioso e terrível
nesse livro é que ele renega o próprio pai, que é um pagão, cultuando seus
próprios ritos e deuses, e o qual é absolutamente amado pelos netos, que sequer
podem visitá-lo. E, apesar dessa vida complicada, as crianças não conhecem
outra...
Até que eles
vão passar uma temporada com a tia Efeoma e os primos, mais ou menos da mesma
idade. Apesar de ser irmã de Eugenie, Efeoma é uma mulher a frente de seu
tempo: professora, militante, batalhadora... ela é católica, assim como o
irmão, mas muito menos fervorosa e ela ama e cuida de seu pai, respeitando sua
religião. E em sua casa, reina a alegria. É um lar com muitas dificuldades e
privações financeiras, mas as pessoas que ali habitam não se importam, são
livre e felizes. E claro, Jaja e Kambili, que parecem duas múmias no início da
visita, começam a se soltar e a questionar a vida que levam.
Eles terão
contato com um amor desconhecido, com a vida que um adolescente deveria estar
levando. E aí, eles passarão a apresentar sentimentos absolutamente antagônicos
para com o pai, assim como o leitor. Ao mesmo tempo que é um provedor incrível
e que lhes confere todos os bens materiais, ele não dá o direito aos filhos de
ter os dois principais elementos: liberdade e felicidade. E daí em diante,
muita água vai rolar. E vou falar: o final é absolutamente surpreendente.
Naquele instante, percebi que era isso que tia Ifeoma fazia com os meus primos,
obrigando- os a ir cada
vez mais alto
graças à forma como falava
com eles, graças ao que esperava
deles. Ela fazia isso o tempo todo, acreditando que eles iam conseguir saltar.
E eles saltavam. Comigo e com Jaja, era diferente. Nós não saltávamos por acreditarmos que podíamos;
saltávamos porque tínhamos pânico de não conseguir.
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