Esse foi um livro
que me abalou muito e eu até demorei bastante tempo para finalizá-lo porque é
bem impactante. Claro que sabemos o que aconteceu em Tchernobil, da mesma forma
que sabemos o que aconteceu em Hiroshima, mas quando lemos um livro que nos traz
relatos de pessoas que vivenciaram essa situação e sobreviveram para nos contar
como foi, é completamente diferente. E é exatamente esse o mote desse livro,
são depoimentos de pessoas que estavam lá na ocasião do acidente e que, direta
ou indiretamente, atuaram dentro dessa história e viram coisas que preferem
esquecer.
O que me deixou mais
impressionada, a princípio, é o fato de que as pessoas que viviam ao redor da
usina eram todas camponesas. Seus ancestrais chegaram ali, construíram suas
casas e, desde então, as famílias viviam da terra, daquilo que plantavam, dos
seus animais, e levavam uma vida absolutamente pacata e sem grandes
expectativas. Essas pessoas, portanto, não conhecem outro modo de viver e são
absolutamente apegadas às suas terras e aos seus pertences. Então, quando
alguém chegou até elas e disse: vocês têm que sair daqui e não poderão levar
nada porque está tudo contaminado, elas não compreenderam e se negaram a
acreditar em algo que, para elas, era invisível.
Então, no final das
contas, essas pessoas até foram tiradas a força de suas casas, mas acabaram
voltando e preferem alimentar-se de comidas contaminadas a viverem longe de
suas terras. Ainda, temos que muitas dessas pessoas eram fugitivas de guerras.
Elas viveram e viram muitas coisas horríveis e, finalmente, encontraram um
local onde tudo era pacato e tranquilo e elas estavam seguras da ação do homem.
Então, para elas, a radiação, aquela ameaça invisível, não era absolutamente
nada comparado à guerra e elas preferiam viver naquele local a ir voltar para
uma situação de risco "real".
Isso pra mim é
triste demais, é muito difícil.
Mas além dessa
“geral” que eu concluí sobre o povo local, o livro ainda traz relatos pontuais
acerca da negligência do governo russo para com o acidente, o envio de homens
para a morte, sem que tivessem conhecimento, como se deu o tratamento com os
enfermos e o suporte às famílias (nenhum!), como a radiação age nos organismos
até levar a uma morte horrível, as crianças que nasciam com problemas,
deformações e o que mais me chocou, como eles mataram, indiscriminadamente,
todos os animais, domésticos ou não, que moravam na região da explosão.
Cara, esse livro é
um soco no estômago!!
Agora já não podemos mais crer, como os heróis de Tchékhov, que dentro de cem anos
o ser
humano será maravilhoso. Que a vida será
maravilhosa! Esse futuro nós já perdemos. Nesses cem anos
houve o gulag de Stálin, Auschwitz, Tchernóbil. O Onze de
Setembro de Nova York. É incompreensível como
se sucederam tantos fatos, como couberam na vida de
uma geração, nas suas proporções.
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