O livro da TAG do mês de maio foi O Leopardo, um
clássico italiano de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, um nobre que viveu na Itália
no início do século passado. Antes de falar sobre o livro propriamente dito e
analisá-lo mais a fundo, quero dizer que me estendi um pouco na sua leitura
porque a achei muito cansativa, pesada e confesso que um pouco enfadonha.
Apesar de um livro muito interessante e com uma temática mais diferenciada, ele
não tem uma sequência de atos interessantes, não é um livro onde acontecem muitas
coisas, os capítulos terminam com gancho ou algo do tipo. A verdade é que ele
foi lido meio que por obrigação – e porque eu não gosto de abandonar minhas
leituras. E a prova de que ele é um livro mais pesadão é que o posfácio dele é
bastante extenso e ainda depois do posfácio, há uma sequência bem numerosa de
apêndices nos posicionando historicamente sobre os fatos e também nos contando
um pouco sobre a vida do autor, que mescla bastante com a história do livro.
Pois bem. O personagem principal é D. Fabrizio
Salina – ou O Príncipe, simplesmente – que é um nobre, detentor de terras e
prestígio no sul da Itália, precisamente na Sicília. O livro tem como cenário,
então, nessa região, em meados de 1860, quando Giuseppe Garibaldi estava
“causando” por lá, em busca de uma unificação das terras italianas e da
formação de uma república. Na ocasião, como em todos os lugares, apesar de
possuir terras, classe e muito prestígio, os nobres estavam bastante falidos e
quem dominava a cena econômica eram os burgueses que, ao contrário, não tinham
títulos ou classe. E a gente vai acompanhar a vida de D. Fabrizio, seus
costumes, hábitos, sua família, o papel da Igreja, as festas realizadas, dentre
muitos outros aspectos interessantes historicamente falando.
D. Fabrizio tem um sobrinho, Tancredi que, por ser
órfão, acabou tornando-se pupilo do tio, a quem chama de “Tiozão”. Trancredi é,
sem sombra alguma e disparadamente, o preferido do Príncipe. Ele é um cara
bastante visionário e destemido, mas não tem um tostão furado. O que acontece é
que esse sobrinho vai se apaixonar por Angélica, a filha do prefeito da cidade
que, ao contrário do amado, não tem título nenhum, mas tem muita grana. E é
nesse momento que vamos enxergar com todas as letras a questão da fusão ou
choque de classes. De um lado, Angélica precisa de Tancredi para uma ascensão
social, para ser bem vista, digamos assim; e de outro, Tancredi precisa de
Angélica com relação à questão da grana, porque ele tem bastante ambição na
vida, mas não tem condições para progredir.
Então, no livro temos, como cenário principal,
representado por Tancredi e Angélica, a questão das classes sociais, e com
isso, seguirão várias cenas em que, por exemplo, o Príncipe irá fazer uma
“tiração de sarro” em relação aos modos ou as roupas utilizadas pelo pai da
moça, irá hostilizar, de alguma forma, sua família, não obstante enxergue
bastante interesse nessa união. Há cenas, também, em que ele demonstrará
poderio, notoriedade e todos os outros aspectos que conferem mais importância à
aparência do que à essência em si e tudo para, no íntimo, fazer acreditar –
talvez a si mesmo – que ainda é mais importante do que a burguesia.
E o outro aspecto abordado no livro vai ser
exatamente essa questão da unificação da Itália. Ele é mais pano de fundo do
que a questão da nobreza x burguesia, mas é bastante interessante também. O que
está em pauta, na ocasião é se os Salina irão ou não apoiar Garibaldi e a tal
unificação dos estados. Fabrizio, a principio, apoia o movimento que,
inclusive, conta com ampla ajuda de seu sobrinho, mas no íntimo, ele analisa
sua própria posição dentro desse novo cenário político. Afinal, ele é
praticamente um senhor feudal, dono de sua região, será que com um soberano
controlando tudo, lá do norte do país, essa situação será mantida? Será que seu
prestígio perante os “súditos”, sua importância social prevalecerá?
Portanto, como vocês podem ver, é um livro deveras
interessante. É o novo x as tradições; a nobreza que, apesar de falida e decadente,
não quer largar o osso. É D. Fabrizio colocando defeitos o tempo todo na
família de Angélica para provar para si próprio que ainda é melhor que os
outros, que seu título vale alguma coisa, afinal. É uma luta interna do
Príncipe contra aquilo que está por vir, por aceitar as mudanças. Ele se agarra
às tradições de um passado que já não vigora mais. Mas, apesar de tudo, é sem
dúvida uma narrativa chata!
Pela primeira vez, temos um vencedor do Prêmio Nobel de Literatura como curador! O peruano Mario Vargas Llosa selecionou um clássico para o clube. A obra nos transporta para a Sicília, durante o processo de unificação da Itália que ficou conhecido como Ressurgimento Italiano. Um príncipe que sente o tédio de seu casamento, que não se reconhece nos próprios filhos, que vê o desmantelamento de sua realeza; um príncipe que assiste com resignação e orgulho à impiedosa passagem do tempo.
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