terça-feira, 27 de junho de 2017

LIVRO E FILME - AS VIRGENS SUICIDAS

Livro que fiquei feliz de ler porque estava na minha lista de leituras para 2017, que andava meio empacada. Devo dizer que gostei muito, porque é um livro diferente, com uma temática bem delicada e, ao mesmo tempo, curtinho, rápido de ser devorado.

Muito bem. No subúrbio dos EUA, em meados da década de 1970, cinco irmãs vivem com seus pais numa vizinhança típica de filme americano. Todos se conhecem, todos frequentam a mesma escola, sabem sobre as vidas alheias, etc e tals. A família Lisbon, aparentemente, é normal, sendo o Sr. Lisbon professor de matemática da escola do bairro e as cinco meninas (com idades entre 13 e 17 anos), alunas do local. E não obstante sejam garotas um pouco retraídas e educadas de forma muito rígida e religiosa, principalmente por parte de sua mãe, elas são praticamente normais.
...Até que a filha mais nova, Cecília, primeiro tenta se matar e, após, numa segunda empreitada, logra êxito em seu objetivo. Veja que isso não éspoiller porque acontece logo no primeiro capítulo do livro e a história nos é contada sob a forma de relatos, através de entrevistas feitas com os garotos do bairro, anos depois, que conheciam as meninas. E também logo no princípio, passamos a tomar conhecimento de que TODAS as garotas Lisbon se suicidaram.
E a graça do livro nem está tanto nessa questão – que sim, é bizarra -, mas na análise que os garotos fazem do comportamento dessas garotas após a morte de Cecília e no período que antecedeu aos demais suicídios. E é interessante como eles começam a reconhecer traços de que, talvez, essas meninas estivessem, por vias obtusas, o tempo todo pedindo socorro e eles simplesmente, como garotos que eram, não deram atenção, não perceberam esse aspecto. Veja abaixo um trechinho extraído do livro:
“Pensando em retrospecto, concluímos que as meninas tinham passado o tempo inteiro tentando falar conosco e pedir nossa ajuda, mas estávamos apaixonados demais para ouvir. Nossa vigilância tinha sido tão concentrada que não deixamos passar nada, exceto um simples olhar devolvido. A quem mais elas poderiam recorrer? Não aos pais. Nem aos vizinhos. Dentro de casa eram prisioneiras; fora dela, leprosas. É assim se esconderam do mundo, esperando por alguém — nós — para salvá-las.”
Após a morte de Cecília, foi como se o casal Lisbon houvesse desistido da vida e, com essa desistência, esqueceram-se de que tinham outras 4 filhas em casa e que essas garotas também sofriam e também precisavam de atenção. Como forma de proteção, os Lisbon simplesmente prenderam as garotas em casa, impedindo qualquer contato das meninas com outras pessoas, com o colégio, com qualquer tipo de diversão. Elas passaram a ficar enclausuradas em sua casa, que também carecia de cuidados e atenção, pensando que, talvez, dessa forma, estivessem protegidas.
Poucos dias após o término da leitura do livro, resolvi assistir ao filme, dirigido por Sophia Coppola e estrelado por Kirsten Dunst no papel de Lux. E vou dizer a vocês que, por um milagre, achei que o filme vale super a pena ser assistido. É claro que eu não esperava que ele fosse uma cópia fiel do livro, porque são meios de comunicação diferentes, há a questão do tempo, porque as películas não podem ficar super longas, etc e tal. Mas, guardadas todas as questões, eu achei o filme bastante fiel ao livro, incluindo diversos diálogos e frases que são idênticos! E achei o filme bem legal também porque ele retrata muito bem a obsessão dos garotos pelas meninas Lisbon e a relação que eles possuíam com elas. 


Se eu tivesse, no entanto, que mencionar uma única situação que o livro retrata de forma melhor é a questão sensorial. O livro nos traz muito clara e forte a parte olfativa e também a degradação da casa e da própria família Lisbon que, ao final, culminou com o suicídio de todas as irmãs. No filme, é como se isso não estivesse muito claro. Recomendo sim o filme, mas continuo recomendando mais fortemente o livro.
O livro é sufocante, porque pouco a pouco vamos observando essas garotas gritarem por dentro, e definharem e suas vidas se tornarem cada vez mais medíocres e tristes. Livrão!!! 

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