Vou fazer duas resenhas em uma porque esses
dois livros estão relacionados e eu comprei o segundo por causa do primeiro.
Literatura de Viagem e Sátira Política - Bem, esse livro foi escrito pela amiga da minha mãe, que é
historiadora, e foi a tese de doutorado dela na Unicamp. Ele não é um romance,
mas sim, um livro mais didático que vai explorar a política brasileira,
traçando um comparativo entre a época do Império e os dias de hoje - veremos
que tanto o modo como governar quanto o brasileiro em si não mudaram nada -,
com respaldo na chamada literatura de viagem.
Literatura de viagem nada mais é do que aquele
diário, relato, manuscrito ou mesmo as cartas, postais que enviamos/escrevemos
quando fazemos uma viagem. Hoje poderia ser um diário de viagem, um post num
blog ou alguma coisa assim. Esses relatos foram cruciais aos historiadores, que,
através deles, tiveram acesso a conhecimentos acerca dos costumes, nomes,
características dos lugares e das pessoas; mas ao mesmo tempo interessavam
muito a população, especialmente numa época em que as notícias não chegavam com
tanta facilidade. Crescia cada vez mais o interesse do povo em descobrir novas
culturas e saber mais sobre o que acontecia além do quintal de casa. E claro
que uma literatura de viagem é sempre mais gostosa de ler do que um texto mais
formal.
No livro, a autora utiliza-se como exemplo de
uma literatura de viagem que foi escrita com vistas a criticar a política da
época imperial: o livro A Carteira do Meu Tio, de Manuel Joaquim Macedo, o
mesmo autor do maçante A Moreninha, um dos meus livros mais odiados do colégio.
Nele, a sociedade brasileira é altamente criticada, assim como as classes
sociais, os políticos e toda forma de se portar, de fazer governo, mas de uma
forma mais divertida e sem apontar dedos. É a coisa da carapuça, se servir a você,
então pode ser que o livro esteja te mencionando!
E a verdade é que a autora aborda esse livro do
Macedo com tanta paixão, que eu acabei comprando e lendo-o em seguida, por isso
estou fazendo esse post em conjunto. Isso porque, apesar de Literatura de
Viagem e Sátira Política ter como fito um cunho histórico, eu acho que ele é um
excelente livro de apoio ao A Carteira do Meu Tio, principalmente porque nos
situa dos acontecimentos e contexto daquela época. É nos auxilia em desvendar o
que o autor quis com aquele texto, uma vez que ele é claramente critico.
A Carteira do Meu Tio – como
mencionado acima, o livro é uma crítica à política da época do segundo império.
Na verdade, é uma crítica aos políticos que, desde aquela época, faziam a
chamada Política do Eu, ignoravam a constituição, o povo, suas necessidades e
absolutamente qualquer coisa que não fosse interessante apenas para si mesmo.
Alguma semelhança com os dias de hoje???
O livro nos traz um Sobrinho (ninguém tem nome), que, recém
chegado de Portugal, onde diplomou-se em um curso qualquer na Universidade de
Coimbra, vai até seu Tio, um homem rico e influente, em busca de uma profissão.
Após muito pensar, ele conclui que ser político é a melhor maneira de se dar
bem na vida sem fazer muita coisa. O que ele não esperava era que o Tio não lhe
concederia tal cargo de mãos beijadas. A condição era a de que ele viajasse
pelo país, observando o povo, conhecendo suas necessidades, as falhas do
sistema e, apenas após, pudesse assumir um cargo com aptidão.
Muito a contragosto, o Sobrinho sai por aí, ao lado do
Compadre Paciência. Juntos, eles encontram uma sociedade podre, na qual manda
quem tem dinheiro e obedece quem não tem, as pessoas são absolutamente volúveis
e destituídas de opinião própria, apenas vivendo dentro do curso da maré
política do momento, daquela que as convém. E o mais legal é que o livro é
absolutamente lotado de passagens ótimas e poderia ter sido escrito nos dias de
hoje. Meu exemplar está cheio de marcações, mas vou transcrever algumas delas:
“Com efeito, do mesmo modo que sucede a todos
os vadios de certa classe, a primeira ideia que me sorria tinha sido a política”
(pg. 16)
“A Constituição do Império devia ser como as asas de um anjo, à cuja sombra se acolhessem
sempre a todos os brasileiros; é, porém, como já dizia aqui há anos um dos tais
entusiastas, uma espécie de chapéu de chuva, que os ministros trazem aberto ou
fechado, conforme o tempo que faz” (pg. 61)
“- Está bem, não irei adiante com o que me
dizem; mas quero sempre concluir asseverando-lhe que quem mais sofr4e com todas
as cataratas do governo é por um lado o povo, que padece, e por outro lado o
tesouro público, que paga as favas; e o que eu peço a Deus é que a paciência
dure mais no coração do povo do que o dinheiro nos cofres do tesouro.” (pg. 93)
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