Bem, esse post vai ser um pouco difícil...
Quando chegamos ao Vietnã, já estávamos na Ásia há 10 dias e
bastante habituados com as “esquisitices locais”. Veja que, por esquisitices,
quero dizer apenas diferenças culturais, coisas com as quais não estamos
habituados e que, para nós, são muito diferentes. E vale lembrar também que,
apesar de todos os pesares, gostamos muito da Tailândia e vivemos momentos
incríveis por lá (destaque para: Grand Palace, Ayutthaya, Elephant Nature Park e as Ilhas).
Mas o Vietnã, sem sombra de dúvida, foi um choque! Saímos de
Chiang Mai (cidade fofa!) pela manhã e chegamos em Hanoi 2 horas depois através
de um avião de hélice da Empresa Bangkok Air. Não tenho medo de voar, mas
confesso que fiquei um pouco apreensiva com a situação no começo... até
descobrir que o banco do meu lado estava vago e que eles serviriam um
maravilhoso Phad Thai para os passageiros! E o serviço de bordo foi impecável.
O aeroporto de Hanói é ótimo, passamos ilesos pela imigração e
pela parte do visto, que é conferido na hora aos turistas. Mas logo de cara,
concluímos que toda simpatia do povo tailandês havia ficado na Tailândia. Os
vietnamitas são sisudos, desconfiados e todos parecem ter alguma patente no
exército. Me senti sendo observada... não sei explicar. A boa notícia é que o
calor infernal que sentimos quando chegamos na Tailândia não foi sentido em
Hanoi... frieza dos vietnamitas x calor dos tailandeses?
Dentro do táxi, notamos que a
cidade era bem feia, mas acho que estávamos com a expectativa de que essa
impressão melhorasse no caminho, afinal de contas, a periferia das cidades
nunca é um lugar bonito e não há exceção nem com cidades incríveis como Paris e
Berlin. Mas, não melhorou! Aliás, acho que só piorou. Quando o táxi nos deixou
num lugar que ele indicou como sendo a rua do hotel, acho que os três se
olharam e mentalmente pensaram “que merda”.
A rua, de fato, era
horrorosa, os arredores eram muito feios. Muito lixo, muita sujeira, muita
informação para ser vista e assimilada... É como se Hanói inteira fosse um
grande centro comercial. Todas as construções representam uma lojinha
diferente, muito antiga e em péssimas condições. E, em cima ou nos fundos,
funciona – eu imagino – a residência das pessoas que trabalham nelas. Há muitos
corredores infinitos chafurdados entre algumas construções, de onde saem
dezenas de pessoas... imagino, portanto, que no fundo dessas fachadas, haja uma
vila ou uma única residência com múltiplos cômodos... não sei.
Realmente parece que eles brotam da terra! São pequeninos e acho
que, por ocasião de tantas guerras, eles aprenderam a viver em qualquer canto,
qualquer espaço disponível. E o curioso é que os vietnamitas passam o dia
dentro desses comércios, trabalhando. Então, é muito comum você se deparar com
os vendedores almoçando ou mesmo dormindo dentro das lojas.
Voltando à realidade, verificamos que, por pior que fosse a
redondeza, na rua do hotel havia alguns bons lugares para comer – e bem
bonitinhos por sinal –, e o hotel em si era bastante agradável e, no final das
contas, ficava bem perto de tudo. Agora, vamos à parte estranha que remete a
nossa impressão inicial de que os vietnamitas são muito desconfiados.
Antes de subirmos para o quarto, a gerente do hotel nos fez
sentar no sofá da recepção, nos serviu um suco (que estava uó) e insistiu que
tomássemos tudo. Me senti como se ali dentro tivesse o soro da verdade e eu
estivesse prestes a ser interrogada. Bem, foi quase isso! Ela quis saber tudo
sobre a nossa viagem: quanto tempo ficaríamos no país, onde pretendíamos ir, de
onde éramos, etc, etc... e não pense que ela fez todas essas perguntas de forma
amigável, como se estivéssemos batendo um papo. Não! Ela era uma pessoa bem
sisuda e a situação toda foi bem estranha. Mas, aparentemente, passamos no
teste e fomos liberados para irmos ao nosso quarto no 7º andar. O quarto
era bastante bom, o chuveiro excelente e havia até um chazinho de jasmin de
consolo! Devidamente acomodados, fomos explorar a cidade.
Nesse primeiro dia, não tínhamos um roteiro fixo a ser seguido,
a intenção era apenas flanar e checar os arredores da cidade, ver qual que é do
povo vietnamita. Antes de mais nada, como já estávamos com fome, fizemos um pit
stop na rua do hotel para experimentar o famoso Banh Mi, exemplo clássico da
fusão da culinária vietnamita com seus colonizadores franceses. Trata-se de uma
baguete bem tostadinha, recheada com barata frita, carne de porco à milanesa,
alguns legumes e um molho apimentado (há variações de recheio). Gostei muito,
achei bastante diferente e, como era de se esperar, foi bem barato.
Seguimos
andando por aí, no meio do caos de Hanói, onde as calçadas dividem espaço com
as quinquilharias do comércio, e as ruas, com motos, carros, tuk tuks,
pedestres e tudo o que estiver circulando por ali. Sinalização? Não
trabalhamos! Se o carro está na faixa da esquerda e quer entrar numa rua à
direita, ele vai parar o trânsito e simplesmente entrar! A sensação inicial era
de que nunca sairíamos do nosso quarteirão, porque atravessar uma rua parecia
absolutamente impossível. Mas depois, acho que a apreensão foi embora e tudo se
tornou mais ou menos natural – pelo menos pra mim, que normalmente me acostumo
logo com os lugares.
Descobrimos que não só a cidade toda se assemelha a uma grande
25 de Março vintage e desgastada, como é possível encontrar absolutamente tudo
por lá. Você precisa arrumar a moto? Temos! Precisa de uma mala? Temos.
Iluminação? Temos. O comércio de rua é bem impressionante e devo dizer que o
mercado de souvenires é muito vasto e oferece muita coisa legal. Claro que se
você quiser comprar uma camiseta por R$ 10,00 de qualidade duvidosa ou uma
bandeira comunista, vai encontrar uma gama bem grande de opções. Mas o
artesanato e, principalmente, a cerâmica local, são muito lindos e ricos.
Óbvio que absorver tudo isso não foi fácil. Muito barulho, caos,
trânsito, coisas a serem vistas... é como se a gente tivesse que estar o tempo
todo alerta. Toda paz que a gente havia conquistado na Tailândia se transformou
em atenção. É uma cidade que te deixa cansado. Mas, no final de algumas
andanças, começamos a nos entender por lá e eu comecei a simpatizar
com a cidade – vou falar por mim porque meu irmão
simplesmente odiou Hanói.
Acabamos
encontrando o Lago Hoan Kien, que é muito bonito e tem uma história bastante
interessante. Ele abriga o Templo da Tartaruga Gigante e lá se encontra o
último exemplar da espécie que, dizem, tinha mais de 500 anos quando faleceu em
2016. Reza a lenda que o Imperador Le Loi recebeu uma espada mágica com o
intuito de expulsar os chineses do país (o Vietnã tem um histórico bem vasto de
invasões). Com o sucesso da empreitada, a espada foi entregue pelo imperador a
uma tartaruga gigante que vivia no lago e é a guardiã dessa relíquia.
O
templo foi fundado no século XVIII e, desde cara, notamos que ele em nada se
assemelha aos tailandeses, sendo mais parecido com os templos chineses. Aliás,
claro que em razão da proximidade e também das invasões, vimos que o Vietnã tem
muita influência chinesa. Os templos são bem vermelhos e mais brutos que os
tailandeses. São mais apertados também e eu não senti paz nenhuma lá dentro, ao
contrário da sensação que tive em muitos templos tailandeses.
Saindo
de lá, deixamos o Old Quarter para trás (onde fica o nosso hotel) e contornamos
o lago em direção ao French Quarter que, como o nome já diz, é o local que tem
a influência da colonização francesa (a influência é bem sutil, rs!). Nesse
momento, já havia começado a escurecer e devo dizer que se a cidade de dia
parece a 25 de Março, à noite lembra a Times Square, rs!!! Absolutamente tudo
iluminado, inclusive a ponte do lago e o templo. Muito bonito.
Depois
de muita andança e, claro, de nos perdermos, encontramos a St. Joseph Catedral,
que é uma réplica da Notre Dame. Infelizmente, não é possível entrar, ela fica
fechada. O passeio foi ótimo, mas estávamos bem cansados (e assustados) e
resolvemos voltar para o hotel. Jantamos num restaurante ótimo na mesma rua,
onde comi um macarrão com frutos do mar que estava maravilhoso e fomos dormir.
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