Bom, não é fácil falar sobre esse
livro. Ele é a síntese de um dos fatos mais chocantes e tristes da nossa
história moderna e quando personificamos essa questão, sendo apresentados
a pessoas que participaram diretamente do evento, eu acho que fica ainda mais
pesado.
O Diário de Anne Frank, para quem não
é desse mundo ou passou os últimos 70 anos hibernando numa cápsula, foi escrito
por uma adolescente judia, entre seus 13 e 15 anos, quando esteve com sua
família e mais 4 outros judeus escondida em um anexo secreto na empresa de seu
pai. Os conviveres, antes muito ricos, cultos e livres, se viram na condição de
passar 2 anos escondidos nesse local, dependentes do auxílio de terceiros,
basicamente funcionários da empresa, sem qualquer perspectiva de melhora.
E o que é interessante no diário é
que Anne, uma garota com uma personalidade extremamente forte, muito viva e
inteligente, nos contará como foi a convivência dessas pessoas durante o
período, o que é absolutamente curioso, bem como fatos da própria guerra, com
base nas notícias do rádio e aquelas trazidas de fora, bem como aquilo que
conseguia enxergar pelas frestas das janelas ou simplesmente sentir, como no
caso das bombas que caiam nas proximidades. O medo constante de serem
bombardeados ou descobertos, de passarem fome, de nunca saírem daquela situação
vai sufocando o leitor aos poucos, principalmente porque sabemos que, não
obstante os dois anos de esconderijo, a autora não sobreviveu aos horrores da
guerra. Aliás, e isso não é spoiller, porque é história, o único
sobrevivente do anexo foi Otto Frank, o pai de Anne.
Bastante curiosa a descrição de como
era a rotina daquelas pessoas, como dividiam e racionavam a comida, a divisão
das tarefas, as discussões constantes, as inimizades, os namoricos, e a
tentativa de manterem uma normalidade, dentro do possível, com estudos aos mais
novos e trabalhos aos mais velhos. O mais frustrante é que Anne tinha tanta
ambição na vida, tantas vontades... foram tantos sonhos não vividos... Eu não
sei o porquê protelei tanto a leitura desse diário. O livro é delicioso, super
bem escrito e muito instrutivo. Impressionante como alguém se manteve tão
incrivelmente são em meio ao caos.
Abaixo, alguns trechos retirados que
me tocaram bastante:
“Que maravilha se as pessoas, todas as noites, antes
de dormir recapitulassem mentalmente os acontecimentos do dia que passou e
considerassem o que haviam feito de bom e de mau. Então, mesmo sem perceber,
tentariam aperfeiçoar-se, ao começar um novo dia; é claro que se consegue
muito, com o correr do tempo. Qualquer um pode fazer isso, não custa
nada e, certamente, ajuda muito. Quem não sabe precisa
aprender a descobrir, pela experiência, que "uma consciência em paz torna
as pessoas fortes".
“Muitas vezes falo em "depois da
guerra", mas acho que isso é castelo no ar, coisa que jamais
acontecerá na realidade. Se penso em nossa antiga casa, em minhas amigas, nas
brincadeiras da escola, é como se outra pessoa tivesse vivido aquela vida, não
eu.”
“Você
só conhece mesmo uma pessoa quando tem com ela uma briga. Só
então pode avaliar seu verdadeiro caráter!”
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