sábado, 16 de janeiro de 2021

LIVRO - AS AVENTURAS DE PI

Quando o filme saiu em 2013, não dei nada. Nem quis assistir porque não costumo ficar feliz com histórias que envolvem animais... sempre acho que vão envolver muito sofrimento e eu vou chorar rios. Mas como o livro estava listado em vários locais como “tem que ler”, resolvi dar uma chance. E não só não me arrependi como posso tranquilamente inclui-lo entre minhas leituras favoritas da vida.

Vou contar um pouco da história, mas já aviso desde já que, assim como os livros do Zafón, As Aventuras de Pi é um daqueles que contam com personagens interessantíssimos e trechos e falas incríveis, o que tornam a experiência literária muitíssimo mais rica e sem os quais minha resenha fica muitíssimo menos envolvente. Dentre esses trechos maravilhosos, temos a história da escolha do nome do protagonista, relatos sobre uma vida no zoológico e algumas histórias interessantes e, o que ao meu ver é uma das partes mais incríveis do livro, a busca de Pi pela religião – ele era católico, muçulmano e hinduísta praticante!

Muito bem. Pi, seu irmão, pai e mãe vivem praticamente dentro de um zoológico na Índia da década de 1970. Eles são os proprietários desse mundo maravilhoso e os animais são parte de sua família. Até que a situação econômico-social no país fica muito ruim e o patriarca resolve vender o zoo e começar uma vida nova no Canadá. Os animais são, então, vendidos aos mais diversos locais do mundo e alguns deles embarcam de navio com a família ao continente americano, onde serão distribuídos aos zoológicos locais.

Só que algo dá errado e o navio naufraga. Pi consegue se salvar, alcançando um bote, mas sua família afunda junto com a embarcação. Em sua nova morada, o protagonista, todavia, descobre que não está sozinho, mas sim na companhia de uma zebra debilitada, com a perna quebrada, uma orangotango chamada Suco de Laranja, uma hiena macho e, pasmem, Richard Parker, um tigre de bengala de 200kg (aliás, a história do nome do felino também é maravilhosa!!!!). Ou seja, além de estar numa situação absolutamente desesperadora por si só, dentro do bote Pi ainda se vê na companhia de duas feras selvagens famintas. E claro, o instinto de sobrevivência de todos vai se intensificar ao longo da jornada. 

Aqui, alguns spoilers, mas nada que comprometa a leitura.

A hiena é a primeira a se manifestar e em poucos dias, devora a zebra, que já estava moribunda. Após, numa briga ferrenha, a hiena vence a orangotango, que também perece. Nesse momento, o protagonista entende que será o próximo, já que é o mais fraco no barco. Mas Richard Parker finalmente se manifesta e acaba liquidando a hiena. Pronto, restam apenas os dois na embarcação. E a missão de Pi passa a ser alimentar-se e alimentar o tigre, para que ele próprio não acabe servindo de alimento.

A partir desse momento, seguirá a rotina de Pi com sua nova situação, pescando, comendo carne crua, ele que era vegetariano até então, e cuidando para que Richard Parker esteja bem nutrido e não saia dos limites do seu território. Sim, o protagonista irá treinar o tigre para que ele não invada os seus limites na embarcação e, assim, não passe a ser o alimento do felino. Muitas coisas acontecerão ao longo de tantos dias, e a gente vai acompanhando a jornada que, juro, não é enfadonha.

Aqui, spoilers pesados.

Até que após 200 e tantos dias, quando Pi e Richard Parker já nem tinham mais forças, eles vão parar na costa mexicana. O tigre, seu companheiro de jornada, sem se despedir e sem hesitar, foge para dentro da mata, de onde nunca mais foi visto. Pi vai para o hospital, onde após alguns dias, vai ser entrevistado por dois agentes de seguro do navio, curiosos para entender o que aconteceu, a causa do naufrágio da embarcação. E é nesse momento que o livro, que já não podia ficar mais interessante, fica!

Pi conta aos entrevistadores a história surreal de sua jornada em busca da sobrevivência com um tigre a bordo. E claro, os homens não acreditam em uma palavra do que ele diz. Então, Pi se dispõe a contar uma segunda versão dos fatos. Nela, ele menciona que quando entrou no bote, lá estavam sua mãe, um cozinheiro e um marinheiro que quebrou a perna ao cair. O cozinheiro, então, mata o marinheiro e, após, num acesso de fúria, mata a mãe do protagonista. Por fim, em determinado momento, Pi assassina o cozinheiro. Ou seja, a zebra era um marinheiro, a orangotango era a mãe de Pi, o cozinheiro a hiena e, por fim, ele era o próprio tigre!

Em outras palavras, para disfarçar uma história absolutamente brutal e repugnante, o protagonista criou uma versão diferente, pois os mesmos fatos tendo animais como personagens, não se mostram tão terríveis, uma vez que são irracionais e se guiam pelo instinto. Mas com humanos, a coisa já muda de figura... E após ouvir a segunda versão da história, os entrevistadores resolvem ficar com a primeira.

E a moral é: nós escolhemos aquilo que vamos acreditar e isso tem uma influência em como vamos viver as nossas vidas. Mas há outros significados também, que são legais de checar em blogs sobre a história. Como o fato de nos tornarmos selvagens e completamente diferentes de quem somos em um momento de necessidade extrema (um ser humano só conhece o seu limite quando passa fome), etc. Isto é, todos nós temos uma versão Richard Parker em algum lugar, só aguardando para se manifestar.

Apenas leiam!!

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