Quando
o filme saiu em 2013, não dei nada. Nem quis assistir porque não costumo ficar
feliz com histórias que envolvem animais... sempre acho que vão envolver muito
sofrimento e eu vou chorar rios. Mas como o livro estava listado em vários
locais como “tem que ler”, resolvi dar uma chance. E não só não me arrependi
como posso tranquilamente inclui-lo entre minhas leituras favoritas da vida.
Vou
contar um pouco da história, mas já aviso desde já que, assim como os livros do
Zafón, As Aventuras de Pi é um daqueles que contam com personagens
interessantíssimos e trechos e falas incríveis, o que tornam a experiência
literária muitíssimo mais rica e sem os quais minha resenha fica muitíssimo
menos envolvente. Dentre esses trechos maravilhosos, temos a história da
escolha do nome do protagonista, relatos sobre uma vida no zoológico e algumas
histórias interessantes e, o que ao meu ver é uma das partes mais incríveis do
livro, a busca de Pi pela religião – ele era católico, muçulmano e hinduísta
praticante!
Muito
bem. Pi, seu irmão, pai e mãe vivem praticamente dentro de um zoológico na
Índia da década de 1970. Eles são os proprietários desse mundo maravilhoso e os
animais são parte de sua família. Até que a situação econômico-social no país
fica muito ruim e o patriarca resolve vender o zoo e começar uma vida nova no
Canadá. Os animais são, então, vendidos aos mais diversos locais do mundo e
alguns deles embarcam de navio com a família ao continente americano, onde
serão distribuídos aos zoológicos locais.
Só
que algo dá errado e o navio naufraga. Pi consegue se salvar, alcançando um
bote, mas sua família afunda junto com a embarcação. Em sua nova morada, o
protagonista, todavia, descobre que não está sozinho, mas sim na companhia de
uma zebra debilitada, com a perna quebrada, uma orangotango chamada Suco de
Laranja, uma hiena macho e, pasmem, Richard Parker, um tigre de bengala de
200kg (aliás, a história do nome do felino também é maravilhosa!!!!). Ou seja,
além de estar numa situação absolutamente desesperadora por si só, dentro do
bote Pi ainda se vê na companhia de duas feras selvagens famintas. E claro, o
instinto de sobrevivência de todos vai se intensificar ao longo da
jornada.
Aqui,
alguns spoilers, mas nada que comprometa a leitura.
A
hiena é a primeira a se manifestar e em poucos dias, devora a zebra, que já
estava moribunda. Após, numa briga ferrenha, a hiena vence a orangotango, que
também perece. Nesse momento, o protagonista entende que será o próximo, já que
é o mais fraco no barco. Mas Richard Parker finalmente se manifesta e acaba
liquidando a hiena. Pronto, restam apenas os dois na embarcação. E a missão de
Pi passa a ser alimentar-se e alimentar o tigre, para que ele próprio não acabe
servindo de alimento.
A
partir desse momento, seguirá a rotina de Pi com sua nova situação, pescando,
comendo carne crua, ele que era vegetariano até então, e cuidando para que
Richard Parker esteja bem nutrido e não saia dos limites do seu território.
Sim, o protagonista irá treinar o tigre para que ele não invada os seus limites
na embarcação e, assim, não passe a ser o alimento do felino. Muitas coisas acontecerão
ao longo de tantos dias, e a gente vai acompanhando a jornada que, juro, não é
enfadonha.
Aqui,
spoilers pesados.
Até
que após 200 e tantos dias, quando Pi e Richard Parker já nem tinham mais
forças, eles vão parar na costa mexicana. O tigre, seu companheiro de jornada,
sem se despedir e sem hesitar, foge para dentro da mata, de onde nunca mais foi
visto. Pi vai para o hospital, onde após alguns dias, vai ser entrevistado por
dois agentes de seguro do navio, curiosos para entender o que aconteceu, a
causa do naufrágio da embarcação. E é nesse momento que o livro, que já não
podia ficar mais interessante, fica!
Pi
conta aos entrevistadores a história surreal de sua jornada em busca da
sobrevivência com um tigre a bordo. E claro, os homens não acreditam em uma
palavra do que ele diz. Então, Pi se dispõe a contar uma segunda versão dos
fatos. Nela, ele menciona que quando entrou no bote, lá estavam sua mãe, um
cozinheiro e um marinheiro que quebrou a perna ao cair. O cozinheiro, então,
mata o marinheiro e, após, num acesso de fúria, mata a mãe do protagonista. Por
fim, em determinado momento, Pi assassina o cozinheiro. Ou seja, a zebra era um
marinheiro, a orangotango era a mãe de Pi, o cozinheiro a hiena e, por fim, ele
era o próprio tigre!
Em
outras palavras, para disfarçar uma história absolutamente brutal e repugnante,
o protagonista criou uma versão diferente, pois os mesmos fatos tendo animais
como personagens, não se mostram tão terríveis, uma vez que são irracionais e
se guiam pelo instinto. Mas com humanos, a coisa já muda de figura... E após
ouvir a segunda versão da história, os entrevistadores resolvem ficar com a
primeira.
E a moral é: nós escolhemos aquilo que vamos acreditar e isso tem uma influência em como vamos viver as nossas vidas. Mas há outros significados também, que são legais de checar em blogs sobre a história. Como o fato de nos tornarmos selvagens e completamente diferentes de quem somos em um momento de necessidade extrema (um ser humano só conhece o seu limite quando passa fome), etc. Isto é, todos nós temos uma versão Richard Parker em algum lugar, só aguardando para se manifestar.
Apenas leiam!!
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