sexta-feira, 24 de agosto de 2018

LIVRO - O OUTRO PÉ DA SEREIA


Eu acabei nesse instante de ler esse livro e a minha opinião não poderia ser a mais confusa: maravilhoso, porém triste e um pouco confuso. Eita!!! Vou começar falando um pouco sobre a escrita desse autor moçambicano que é novo para mim, esse é meu primeiro título dele. Achei uma coisa meio Graciliano Ramos com Valter Hugo Mãe. É poético, é bonito de se ler e você sente vontade de marcar o livro inteiro, porque ele tem citações incríveis, daquelas que te faz refletir, que faz parar para pensar.


Com relação à temática, confesso que tive que ouvir algumas críticas para ter certeza, porque esse livro engloba tanta coisa e de uma forma tão especial, que por vezes, o leitor acaba se confundindo e achando que está vendo coisas demais. Mas outros leitores também tiveram a percepção que o livro aborda religião, saudade, africanidade, família, aceitação... E o mais legal é que o autor faz um jogo com o nome dos personagens e os lugares de onde eles vieram. Por exemplo Zero Madzero é descrito como um cara que se anula!
Pois bem. Zero Madzero e Mwadia são casados e vivem sozinhos num lugar chamado Antigamente. Um belo dia, uma estrela cadente supostamente cai no quintal e Zero começa a enterrá-la. Nesse momento, ele descobre enterrada a imagem de uma santa muito antiga, sem um pé. Entendendo que foi amaldiçoado pelo achado, Zero Madzero imediatamente vai até o curandeiro mais próximo apurar o que esse achado significa e o que deverá fazer com tal imagem. Lá, ele recebe a informação de que o único meio de se livrar da maldição é levando a santa a uma igreja.
Mwadia toma a missão para si e vai sozinha até Vila Longe, onde nasceu e onde mora sua família, uma vez que é lá que fica a igreja mais próxima. Por lá, tudo é muito esquisito. Os personagens são sinistros, é de lá que saem as frases mais incríveis do livro e o mais maluco é que o leitor não sabe se aquelas pessoas realmente existem ou não. O próprio Zero Madzero é tido como morto pelo pessoal da cidade. No mais, eles estão preparando-se para a chegada de um casal de americanos, que vai chafurdar a vida local com vistas a investigar seu próprio passado e a questão da escravidão.
Tal visita mexe com todo mundo e, mais uma vez, o leitor não tem certeza sobre as intenções daquele casal ou dos reais motivos daquela visita. E com o decorrer dos acontecimentos, o leitor também passa a conhecer melhor cada um dos personagens e verificar que as pessoas não são exatamente quem se pensava que eram... É tudo muito confuso. Se eu disser que entendi por completo a história, vou estar mentindo. Mas, eu acho que o intuito do autor foi fazer o leitor refletir sobre algumas questões e não necessariamente entender o livro 100%. Abaixo, algumas frases que me marcaram.
“—   Nós temos que lutar para deixarmos de ser pretos, para sermos simplesmente pessoas. E agora baixe a cabeça. Mistura justificou-se: se ele puxara o tema foi porque o americano exibia a raça como uma doença para que o mundo sentisse comiseração. E usava a cor da pele como empréstimo de identidade. E que não houvesse equívoco: ele ali, sentado na barbearia, não era afro-americano, não era negro, nem brother.”

“a barbearia é  um lugar em que se reduz o cabelo e crescem as línguas. É  um  bazar  de conversas, um mercado de mexericos.”

“As doenças são a sua única companhia agora que as suas filhas se foram e o marido Jesustino Rodrigues transitara de companheiro para companhia.
“— Foi aqui, neste chão, que nasceram as minhas filhas.
— Não nasceram no hospital?, admirou-se Rosie.
— Nunca. Como é que alguém pode ser feliz se nasce no lugar dos doentes?“

Nenhum comentário:

Postar um comentário