O
que falar desse livro... pqp!!! A primeira vez que li Svetlana foi Vozes de
Tchernobyl e eu fiquei em absoluto choque com o que li. Foi como se eu
estivesse descobrindo um novo acidente nuclear, um cenário que eu não conhecia.
Claro, porque eu sabia que havia acontecido um acidente na década de 80 lá na
Ucrânia – na verdade eu soube que foi na Bielorussia -, sabia que muita gente
tinha morrido, que os danos eram imensos, mas a gente só sabe meia verdade,
aquilo que permitem que saibamos. É preciso ouvir relatos de pessoas que
presenciaram de alguma forma a tragédia para que a verdade completa venha a
tona e o mundo possa compreender de fato o que aconteceu, qual a dimensão dos
horrores e os responsáveis a tanto.
E Svetlana faz isso com maestria. Ela entrevista pessoas
que estiveram envolvidas nos fatos e traz os relatos para nós, para que
possamos, através de tais vivências, tirar nossas próprias conclusões sobre os
fatos. E claro, o resultado disso é um soco no estômago, é uma vontade imensa
de chorar, de voltar no tempo, abraçar essas pessoas e também, de pensar um
pouco sobre a humanidade, sobre as pessoas que praticam atrocidades, seja a mando
de alguém ou não. Quem são essas pessoas? E, que momento se tornaram tão
terríveis?
Eu sempre tive pra mim que grande parte dos soldados
nazistas estava ali porque mandaram que estivesse, porque senão, consequências
ruins seriam trazidas para si e para suas familias. E claro, esse era o caso de
muita gente. Mas, em As Últimas testemunhas, lemos relatos de camponeses
bielorrusos – crianças, todas elas -, sobre as atrocidades cometidas pelos
nazistas. Porque a verdade é: se a ordem era matar, o que já é uma coisa
horrorosa, mate e pronto! Mas não, eles faziam as pessoas sofrerem, metralhavam
crianças na frente dos pais, atiravam em mulheres que choravam, arrastavam
velhinhos pelas ruas, queimavam casas, soltavam cachorros para comerem crianças
vivas.... é tanta crueldade, que eu começo a duvidar que existia algum tipo de
humanidade nessas pessoas. Lavagem cerebral tem limite!
E, ao mesmo tempo, essas crianças nos contam como
passaram fome – algumas estavam no cerco de Stalingrado e se viram comendo mato
e terra -, outras (muitas), ficaram órfãs, não se lembravam mais de seus nomes,
foram para orfanatos, campos de concentração, se viram na condição de cuidar de
criancinhas de colo, de mendigar por um teto, casaco, comida. Era muita
criança, todas camponesas. E o livro também fala sobre os partisans, famosos na
Bielorrussia, formados pela milícia, uma facção particular com o objetivo de
matar os nazistas, a resistência que ajudou muitos a escaparem e a encontrarem
um abrigo.
O livro é incrível, mas ao mesmo tempo muito horrível.
Essas crianças viram coisas tão horríveis, que a mairia não se recuperou. Uma
delas diz que nunca se casou, que nunca conheceu o amor porque ela remete os
homens a todas as figuras que lhe trouxeram algum tipo de desgraça naquele
período. Gente, o trauma de uma criança fica para sempre! Um dos melhores
livros já lidos. Tenho outro da Svetlana me esperando em casa, mas vou dar um
tempo, ler coisas mais leves, porque senão, vou surtar!!! E depois de ter lido
esse livro, fiquei com mais vontade de ler sobre a Segunda Guerra, o Cerco de
Stalingrado e também sobre os partisans.
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