quinta-feira, 2 de abril de 2020

VIAGEM - DIA 18 - SARAJEVO - DIA 02 - HISTÓRIA DE GUERRA


Meu segundo dia na incrível Sarajevo estava planejado há meses! Explico: através de pesquisas, conheci o Ervin (+387 60 30 26 994), um cara com, mais ou menos, a minha idade, que nasceu em Sarajevo e viveu a guerra da Bósnia. Para quem não sabe do que eu estou falando, até meados da década de 90, existia um país chamado Iugoslávia, formado após a Segunda Guerra Mundial e que reunia os povos eslavos (croatas, montenegrino, sérvios, bósnios, eslovenos... etc). Em determinado momento, por uma série de fatores, um a um, esses países começaram a lutar por sua independência, situação que culminou em diversas guerras localizadas. A da Bósnia aconteceu entre os anos de 1992 e 1995 e foi a mais sangrenta e terrível de todas. 

Muita gente morreu, muita gente ficou anos sem ver suas famílias, sem nem saber se seus parentes estavam ou não vivos e ainda hoje é possível ver o resultado desse conflito espalhado por Sarajevo: ainda há muitos prédios destruídos, cravejados de balas e também muitos túmulos espalhados pela cidade. Isso porque, em determinado momento, tinha tanta gente morta, que jardins e parques acabaram  fazendo as vezes de cemitérios. E a verdade é que, como a Bósnia é um mix de culturas e religiões, nenhum outro país quer se comprometer ajudando-os e o resultado disso é que eles ainda não conseguiram se reerguer completamente. 
catedral católica

Muito bem, voltando ao início, o Ervin resolveu montar um "War Tour" bem exclusivo, para um grupo seleto de pessoas, com vistas a levá-los a lugares icônicos, que marcaram aquela época, e também nos contar tudo sobre aquele período, com riqueza de detalhes, porque ele não só vivenciou a guerra, como ele ama falar e nos contar histórias. Ele fala com paixão, sabe? Deixei o telefone do Ervin lá em cima do post, para quem estiver interessado. Ele atende por WhatsApp, os passeios são exclusivos, com grupos pequenos, custam 74 Marcos Conversíveis (cerca de R$ 170,00) e são falados em inglês. 
grupo
Tomei um bom café da manhã no hotel (estava incluso, yay!!) e às 9hs em ponto encontrei com o Ervin na Pigeon Square, que é o coração do bairro turco e ficava a 5 min do hotel. Conosco estavam também uma canadense e um casal de holandeses. Subimos na van e, de pronto, percebi que o Ervin tinha muita informação a nos passar e a cada ponto no caminho havia uma história a ser contada. 
cemitério judaico

Primeira parada: Tunnel of Hope. Ele foi construído entre março e junho de 1993 durante o Cerco de Sarajevo, onde a cidade foi literalmente cercada e nada entrava ou saía de lá, o que significa que a população estava morrendo de fome. Esse túnel foi, então, construído pelo próprio exército bósnio, em segredo, ligando a cidade até o outro lado do aeroporto, região controlada pelas Nações Unidas. Por meio dele, alimentos e material essencial entrava na cidade e doentes, por exemplo, puderam sair dela e serem atendidos em outras localidades. Hoje lá funciona um museu muito interessante, cheio de fotos, vídeos e ainda um pedacinho do túnel para nos dar idéia de como era na época. 

Depois, seguimos para as montanhas, onde aconteceram os Jogos de Inverno de 1984. A cidade está tão acabada, que os cidadãos ainda cultuam esses jogos como o melhor momento de suas vidas. Só que toda a estrutura construída para esse fim, como as pistas de esqui e bobslead, estão completamente abandonadas. Queria dizer que, como grande fã do filme Jamaica Abaixo de Zero, o ponto alto do meu dia foi andar a pé na pista de bobslead, rs!!!
esse da foto é o Ervin
Em seguida, paramos para almoçar e explorar o Hotel Igman - ou o que restou dele. Originalmente, ele era um hotel de luxo construído por um arquiteto famoso no início dos anos 80 já de olho nos jogos de inverno. Mas durante a guerra, ele foi completamente destruído. Depois de comer uma bureka maravilhosa e frutas trazidas pelo Ervin - inclusos no passeio -, o grupo teve a oportunidade de explorar o hotel e a região. Vou falar que me senti num filme de terror!!!



Por fim, fomos até um mirante, onde tiramos uma foto grupal e terminamos o passeio em um cemitério judaico, que guarda túmulos muito antigos, mas que foram utilizados na guerra como escudos. Várias lápides estão com buracos de bala. E lá pelas 15hs - já meio tonta com tanta informação -, estávamos de volta à Pigeon Square. Devo dizer que, nesse momento, precisei parar um ponto porque, apesar de ter estado o tempo todo dentro de uma van, eu estava absolutamente exausta!!!
catedral ortodoxa

Chovia muito na cidade, mas ainda tinha um bom período pela frente e não queria desperdiçar. Acabei entrando nas catedrais católica e ortodoxa - uma de frente para a outra - e na Ghazi Husrev-Beg Mosque, a maior mesquita de Sarajevo. Ela foi construída no século XVI e você paga para entrar no complexo (não lembro o valor... ah, e eles só aceitam dinheiro). Vale dizer que é bom dar uma olhada nos horários, porque a mesquita fecha várias vezes ao dia e também é bom dar uma olhada na vestimenta: roupas abaixo do joelho, braços cobertos e lenço na cabeça. 


Depois acabei chegando no Bairro Austríaco e me deparando com uma praça imensa, lotada de lápides e monumentos em homenagem aos mortos na guerra. E, ao fundo, havia um shopping, que se mostrou um excelente refúgio para a chuva e também um bom lugar para jantar. Ainda fiquei flanando mais um pouco e voltei para o hotel por volta das 18hs, absolutamente exausta, mas extasiada com o meu dia cultural. 

Próximo post, meu último dia em Sarajevo, que também foi cultural, mas contou com um perrengue!

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