Esse
foi o livro que veio no Clube de Literatura Clássica no mês de setembro. Como
os livros desse clube são mais densos, eu costumo ler devagar, sendo muito
difícil pegar na hora para ler. Mas a real é que eu fiquei intrigada com essa
capa maravilhosa e com a temática, que é muito atual.
A
Peste, assim como o Coronavírus, foi uma pandemia que se abateu sobre o mundo.
E, ainda que estejamos numa era mais avançada, com tecnologia, estudos e tal, a
verdade é que o momento que estamos vivenciando não foi e não é tão diferente
daquele experimentado pelas pessoas na época. E para provar, vou juntar alguns
trechinhos do livro:
"Lá (na porta da Prefeitura) havia grande concentração e
aglomeração de pessoas que procuravam obter passaportes e certificados de saúde
para os que sairiam da cidade, pois sem os certificados, não se obtinha
passagem pelas cidades que ficavam na estrada, ou abrigo em qualquer estalagem.
(...) Tal azáfama, como eu dizia, continuou por algumas semanas, isto é,
durante os meses de maio e junho, e mais ainda porque corria o rumor de que o
Governo emitiria ordens para que se erigissem barreiras, algumas com espinhos,
na estrada, de modo a impedir que as pessoas viajassem." (pg. 16)
"Eu tinha duas coisas importantes em que pensar. Uma era
dar seguimento ao meu negócio e loja, que eram de porte considerável, e nos
quais estava investido tudo o que eu tinha neste mundo. A outra era a
preservação de minha vida em meio a uma calamidade tão desastrosa que percebi
que aparentemente vinha se abater por toda cidade." (pg. 17)
"Eu tinha um irmão mais velho que nesse tempo também vivia
em Londres, e que há muitos anos viera de Portugal. Quando lhe pedi um conselho
sua resposta foi nas mesmas três palavras usadas num caso inteiramente
diferente, isto é, Mestre, salva-te a ti mesmo."(pg 17)
"Era uma péssima época para estar doente, pois à primeira
reclamação, os outros diziam que se tratava da peste, e, embora eu em verdade
não tivesse sintomas daquela enfermidade, mas estando mesmo assim muito
adoentado, sofrendo tanto da cabeça quanto do estômago - não me faltaram
apreensões de que realmente estivesse infectado" (pg. 22)
"(...) é certo que todas as espécies de vilanias, e até
mesmo de leviandades e devassidões, eram praticadas à época na cidade, mais às
claras do que nunca - e não direi que com tanta frequência porque a quantidade
de gente de muitas formas havia diminuído." (pg. 24)
"Um mal sempre abre caminho para outro: esses terrores e
apreensões das pessoas quase as levaram a mil atos de fraqueza, tolice e
malignidade, para cujo encorajamento não faltava um tipo de gente realmente
maligno. foram corridas aos videntes, magos e astrólogos para conhecer o seu
futuro, ou como reza a expressão vulgar, para que lessem o seu futuro, também
para que calculassem suas natividades e coisas semelhantes. e essa tolice logo
fez com que a cidade pululasse uma perversa geração de homens que se pretendiam
feiticeiros, se pretendiam operadores de magia negra, como a chama, e não sei
mais o que." (pg. 37)
"A verdade é que o caso dos pobres criados era muito deplorável,
como terei ocasião de mencionar novamente no futuro; pois era evidente que um
prodigioso numero deles seria mandado embora, e assim aconteceu. E eles em
abundância pereceram, especialmente aqueles que os falsos profetas haviam
lisonjeado com esperanças, dizendo que continuariam com seus empregos, e que
seriam levados aos seus patrões e patroas para o interior. E se a caridade
pública não houvesse socorrido essas pobres criaturas, cujo número era
excessivamente grande - e é sempre assim em casos dessa natureza -, estariam em
piores condições do que qualquer outro grupo da cidade." (pg. 39)
"Médicos convidavam as pessoas a vir até eles para receber
remédios; avisos que normalmente começavam, com floreios assim:
"INFALÍVEIS pílulas preventivas contra a peste. NÃO TEM ERRO:
preservativos contra a infecção. Tônico SOBERANO contra corrupção dos ares.
Instruções EXATAS para o tratamento do corpo no caso de infecção (...)"
(pg. 41)
"E que nenhum cadáver de morte causada pela infecção seja
enterrado ou permaneça em qualquer igreja, na hora da Oração Comum, sermões ou
preleções. E que nenhuma criança permita-se que, no enterro de qualquer
cadáver, em qualquer igreja ou cemitério, seja ele ligado ou não a uma igreja,
se aproxime do cadáver, do caixão ou da cova. E que todas as covas tenham ao
menos sete palmos de profundidade." (pg. 55)
"Que se cuide para que os cocheiros de carruagens de
aluguel não possam (como já se observou alguns fazerem), depois de transportar
pessoas infectadas ao abrigo da peste, e a outros lugares, aceitar passageiros
comuns, até que suas carruagens estejam bem arejadas, e tenham permanecido
inutilizadas por cinco ou seis dias após tal transporte." (pg. 56)
"A infecção geralmente entrava nas casas dos cidaãos por
meio de seus criados, que eram obrigados a andar para cima e para baixo pelas
ruas, em busca de itens essenciais; isto é, para buscar alimentos ou remédios,
para ir a padrarias, cervejarias, lojas, etc; e que necessariamente passando
pelas ruas e entrando nas lojas, nos mercados e que tais, era impossível que
não topassem, de um modo ou de outro, com pessoas enfermas, que transmitiam-lhe
o hábito fatal, o qual traziam para as casas das famílias a que
pertenciam." (pg. 87)
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