Mais
um livro do Victor Hugo lido e mais um livro do Victor Hugo amado. É muito
impressionante como a gente acaba se apegando à escrita e ao jeito que um autor
costuma contar suas histórias. Sim, porque entre Os Trabalhadores do Mar, Os
Miseráveis e O Corcunda de Notre Dame não há nada em comum a não ser serem
ambientados na França! Na teoria, porque na prática, e de acordo com o próprio
autor, trata-se de uma trilogia, que aborda igreja, homem e estado...
Muito
bem, nos Trabalhadores do Mar temos Lethierry, um rico homem que possui duas
preciosidades em sua vida: Déruchette, sua sobrinha querida a quem tem como uma
filha e Durande, seu barco querido, de onde tirava todo o seu sustento. Essas
são sua razão de viver.
E
temos de outro lado Gilliatt, um homem extremamente misterioso. Vive sozinho
numa mansão mal assombrada, quase não conversa com ninguém e é tido por muitos
como feiticeiro. As pessoas o evitam e ele evita as pessoas. Vive como um
ermitão e é exímio conhecedor do mar. Gilliatt e Lethiery, no entanto, possuem
duas coisas em comum: ambos habitam a ilha de Guernesey (onde Victor Hugo ficou
em seu exílio) e compartilham seu amor por Déruchette.
O
curioso é que Gilliatt nunca se declarou à Déruchette e Lethiery, por sua vez,
anda a procura de um noivo especial para sua amada sobrinha, sem nunca, claro,
sequer ter cogitado o esquisito habitante daquela ilha. Até que algo acontece e
o cenário desse romance começa a dar uma guinada: Durande, o barco amado de
Mess Lethiery bate nas rochas e é destruído. O motor da embarcação fica
intacto, mas o barco não tem mais a menor serventia.
Com
seu tio completamente desolado e apático, Déruchette, então, anuncia que se
casará com o corajoso marinheiro que se aventurar naquelas águas e resgatar o
motor de Durande. Adivinhem quem se anima e embarca nessa aventura? Claro,
nosso herói: Gilliatt!!
Aí,
nesse momento se inicia um rolê que vai tomar mais da metade do livro e pode
ser descrito como um misto de todos os filmes mais absurdos já vistos: Indiana
Jones, as Minas do Rei Salomão, McGyver, A Múmia e tudo o mais que vocês
quiserem. Gilliatt enfrenta tempestades, fome, frio, monstros marinhos,
tormentas... quando você acha que finalmente vai dar certo a empreitada do homem,
Victor Hugo inventa mais uma!
Daí...
spoiler a partir de agora.
A
parte mais maravilhosa (e tristemente engraçada), é que o coitado, depois de
tanta emoção, finalmente consegue retornar à Guernesey com o motor da Durande e
vai até a casa de Lethiery reivindicar a mão de Déruchette. E claro, Lethiery
contentíssimo, não pensa duas vezes e praticamente joga sua sobrinha nas mãos
do herói. Só que Gilliatt demorou tanto pra concluir sua missão, mas tanto, que
sua bela noiva apaixonou-se por outro e não quer nem saber de se casar com
aquele maltrapilho (imaginem o estado do homem depois dessa aventura).
E aí, meu bem, Gilliatt não só aceita que perdeu sua amada, depois de todo esse rolê, como a ajuda a se casar com o novo pretendente e morre vendo o barco dos noivos no horizonte. Gente.... Victor Hugo poderia ter dado um fim melhor a esse coitado, convenhamos!!!